A Berlinale é um dos maiores festivais de cinema do mundo. Cobre não só os melhores filmes, que depois passam para o circuito comercial, mas também muitos filmes a que o público dificilmente terá acesso. Assim sendo, para mim, a prioridade foi seguir mais perto a secção Fórum, não só por representar, em grande parte, esse segmento menos mediático, como também proporcionar uma oferta mais variada e, a meu ver, mais interessante.
Digo interessante pois os filmes da Seleção Oficial ou da Encounters, entre outras, tendem a ser mais padronizados, focando-se não numa experiência única, mas no aprimoramento da estrutura, utilizando pequenos desvios numa tentativa de sobressair.
Num festival como o de Berlim, principalmente depois de iniciar a minha experiência com o Super Natural, do Jorge Jácome, percebi que este era o verdadeiro poder dos festivais – difundirem cinema alternativo e transgressivo, que não se consegue encontrar com tanta facilidade.
Foi, acima de tudo, um privilégio e uma honra ter a oportunidade de ir à Berlinale sem restrições, ter acesso a todos os filmes, aos realizadores e às conversas. Embora a pandemia tenha suspendido muitas das interações pessoais – as conversas à porta da sala, os risos desinibidos com desconhecidos e a partilha de uma experiência única – isso deu, por outro lado, mais tempo para o cinema acontecer. Tentei, como muitos, compensar a fisicalidade, com as figuras no ecrã, personagens tornadas pessoas, o que, apesar de nunca ser suficiente, é sempre um bom complemento. A vida aconteceu, o cinema também. E no final, o que importa é sair sempre melhor do que se entrou e, nisso, a Berlinale de 2022 não falhou.
Deixo então a minha lista de filmes favoritos, por ordem de preferência, estreados este ano. Podem até não ser os melhores, mas representaram para mim, fragmentos de vida, que levarei comigo:
1 – The Novelist’s Film, Hong Sang-soo
2 – The United States of America, James Benning
3 – Super Natural, de Jorge Jácome
4 – Nest, de Hlynur Pálmason
5 – Un été comme ça, Denis Cotê
Diogo Albarran
[Foto em destaque: Hong Sang-soo – © Berlinale]