Carlos Lobo, professor de fotografia na Universidade Católica do Porto, apresenta na Berlinale de 2022 a sua primeira curta-metragem de ficção. Aos Dezasseis acompanha uma jovem no epicentro da descoberta das inseguranças e curiosidades típicas da adolescência. Conseguimos, após a primeira exibição do filme, conversar um pouco com o realizador e entender algumas das motivações para este projecto, bem como o processo criativo que o guiou.
Estar em Berlim “é uma espécie de recompensa”, diz-nos. Esta curta foi desenvolvida com um pequeno financiamento da Câmara de Guimarães, sua cidade de origem, no contexto do projecto Impacta, e com a colaboração de ex-alunos que compõem toda a equipa técnica, excluindo o trabalho de som. Há assim um cunho marcadamente comunitário no projecto rodado em 3 dias, durante os quais “toda a gente colaborou porque acreditava no filme (…) é quase um homemade movie.” O ponto de partida de Carlos Lobo é a sua relação com o skate e a vontade de fazer algo que “fosse uma espécie de carta de amor aos jovens.” Contou-nos que conheceu os skaters que aparecem em Aos Dezasseis no skatepark que os seus filhos frequentam e que, depois de conversar um pouco com eles, os convidou a participar. Depois desse cenário decidido, iniciou a escrita da personagem principal. Lobo revela que se cruzou certo dia com um grupo de raparigas adolescentes numa praça a dançar “uma coreografia muito trapalhona (…) e pensei: e se houver uma miúda que não encaixe nisto?” E assim se dá início ao filme – precisamente com uma cena de dança coreografada por um grupo de jovens, do qual a personagem principal se distancia. Ela procura um lugar onde pertencer, parece observar tudo ao seu redor com curiosidade e uma vontade de explorar que, contudo, ainda não sabe manifestar: não diz nenhuma palavra ao longo do filme, e mantém uma expressão absorta que é, apesar disso, reveladora das suas sensações e desejos. Quando vê duas raparigas a beijarem-se, percebemos que isso a intriga, que desperta algo nela. Esta personagem envolvente “nunca encaixa, mas ao mesmo tempo não é um final triste, porque faz parte da vida e ela está a aprender,” afirmou Lobo.
Aos dezasseis, Ana Fonseca, Margarida Ribeiro © Olhar de Ulisses
Ao retratar esta jovem, um dos seus objetivos era desviar-se dos lugares comuns das representações dos jovens desta idade, como as experiências com drogas ou com redes sociais, e apontar a câmara para outras problemáticas que dizem respeito ao alvoroço de “dúvidas, incertezas, inseguranças (…) esta indefinição é também a beleza da juventude.” Aos Dezasseis não é uma explosão de excitação com as descobertas do mundo, mas sim uma delineação subtil e reservada da desarticulação de uma jovem com o seu meio envolvente. O filme consegue criar, mesmo que apenas durante os seus 14 minutos, um lugar de pertença para adolescentes que se sentem desorientados – todos eles, no fundo. Parece querer dizer-lhes que tudo ficará mais claro, e que muitas das questões que têm serão eventualmente respondidas. Funciona como um lembrete de despreocupação, pois nem tudo tem de ser entendido agora, neste preciso momento e, para além disso, a turbulência desta altura da vida deve também ser experienciada – numa das cenas, a personagem usa uma caneta para escrever no braço: “take me demons”.
Este pormenor foi absorvido pelo filme a partir da própria atriz que escrevera a frase no seu braço, algo que captou a atenção do realizador, e assim incluiu a situação como parte da narrativa. Ana Ribeiro é quem incorpora esta personagem que permanece sem nome. Com 15 anos, foi selecionada num casting divulgado em algumas escolas, e a sua presença no filme é encantadora. O seu modo de interagir intimamente com a câmara foi desde logo notado pelos diretores de fotografia, Miguel da Santa e Tiago Carvalho, que rapidamente se encantaram com o seu olhar. A doçura da jovem trespassa o ecrã e cativa a audiência. Carlos Lobo realça a importância da jovem atriz para o projecto: “foi com ela que consegui o filme.”
Produzido conjuntamente pela Olhar de Ulisses e pela Cimbalino Filmes, Aos Dezasseis é a primeira parte de uma trilogia ainda por revelar. O realizador esclarece: “este filme deu ânimo a toda a equipa, principalmente à produtora, para avançarmos para a segunda parte do filme (…) que já está escrita – vamos tentar financiamento – e é o continuar desta história com outra personagem que aparece no filme.” Fica assim acesa a curiosidade para conhecer o que Carlos Lobo e a sua equipa revelarão – uma história para certamente manter debaixo de olho.
Vera Barquero
[Foto em destaque: Aos dezasseis, Ana Ribeiro © Olhar de Ulisses]