É fácil ficar-se assoberbado com a dimensão de um festival como o de Berlim, espalhado fisicamente por esta que é uma das maiores cidades da Europa, mas com uma escala que parece albergar todo o mundo. Eu certamente fiquei e não tenho a certeza se deixei de estar. Mas nunca me senti perdido ou até mesmo “estrangeiro”. Mesmo após termos entrado in medias res na história desta edição, no seu quinto dia. Senti logo no primeiro filme (Cidade; Campo) uma pertença a uma comunidade tão diversa, mas unida num único imperativo: o do amor ao cinema. Esse imperativo que nos fazia acordar às sete da manhã para podermos reservar os bilhetes para os filmes que queríamos antes de estes se esgotarem. E ficar horas a fio em frente a um computador, no último cantinho disponível do press lounge do Berlinale Palast, a escrever sobre o filme que tinhamos adorado ou odiado no dia anterior.
Apenas no regresso a Portugal comecei a sentir algum cansaço (mas o bom tipo de cansaço), porque a energia do festival era tal que nos sustentava, física e animicamente. Pude conhecer e experienciar tantas visões de cinema e mundo, a grande marca da Berlinale, desde a Mediateca Onshore em Resonance Spiral às lutas intergalácticas em L’Empire. E, pelo meio, tive o privilégio de poder ver o Martin Scorsese, em carne e osso, numa conferência de imprensa, a falar do seu amor pela sétima arte, no discurso inspirador a que já nos habituou e que nos dá força para continuar nesta travessia do olhar que é a cinefilia.
Aqui fica uma lista dos filmes que mais marcaram o meu olhar:
- Resonance Spiral, de Filipa César e Marinho de Pina (2024)
- Made in England: The Films of Powell and Pressburger, de David Hinton (2024)
- Vogter, de Gustav Möller (2024)
- Through the Graves the Wind is Blowing, de Travis Wilkerson (2024)
- Mãos no Fogo, de Margarida Gil (2024)
[Foto em destaque: Marinho de Pina em Resonance Spiral © Jenny Lou Siegel / Filipa César / Marinho de Pina]
Nuno Gaio e Silva