Bloody Gravel (2022)
de Hojat Hosseini
Um campo aberto desértico dita o destino das personagens. Pânico, ansiedade, medo e uma reflexão tardia de esperança pavimentam o caminho que percorrem num carro abarrotado, rumo a uma nova realidade. É este o campo de batalha de Bloody Gravel, que reside perto da fronteira afegã que Bashir e Roya, grávida, lutam para atravessar clandestinamente. A câmara acompanha apressadamente a viagem, tentando acompanhar aquilo que se desenrola incontornavelmente. O tempo que passa não é aquele que permite recuperar o fôlego, mas sim o que não deixa folga para a reflexão. Não há minutos suficientes num dia para debates morais e no horizonte já se avista a vida de amanhã.
Margarida Nabais
A Straight Strory (2021)
de João Garcia Neto
Uma voz feminina narra as ações de um homem que tira fotos incessantemente a partir de um comboio e é delas que este filme se compõe. Ela não sabe o que lhe desperta tanto interesse, apenas desconfia que quando este pára ocasionalmente é porque viu algo que lhe persiste e precisa que os seus olhos respirem
Uma viagem de comboio entre Poznan e Lublin, na Polónia, torna-se tão mais do que isso. Transforma-se num ensaio cinemático do que é visto através dos vidros, mas também acerca do que neles é refletido; mas para este homem, dasimagens do interior, só uma interessa.
Tiago Leonardo
When Light Goes (2021)
de Pratish Shrestha
À beira do rio Koshi, no Nepal, um casal idoso leva a cabo a sua rotina: a mulher trabalha fora, o homem fica em casa a tomar conta dos terrenos e dos bodes. Os filhos, esses partiram: rumaram para fora depois de casados, em busca de trabalho e condições de vida mais propícias a um futuro reluzente. A técnica Pratish Shrestha é crucial em When Light Goes, um exercício etnográfico que privilegia a paisagem que se calca no trabalho árduo. À luz do dia, recebem uma visita inesperada, que suscita as memórias dos filhos e desperta um olhar crítico a questões como a globalização – que leva para longe quem nos era próximo –, as injustiças laborais que assolam todos os países mas, especialmente, países como aquele aqui retratado, o Nepal. Já as sombras da noite vêm trazer novas preocupações e medos, prendendo o espectador ao ecrã, na expectativa de ouvir algo para além dos gafanhotos e da respiração do velho que o acompanhanuma busca noturna.
Kenia Pollheim Nunes
Pirite (2022)
de Heldér Beja
Pirite é um filme experimental que lembra filmes como Koyaanisqatsi, de Godfrey Reggio, onde a paisagem ocupa um lugar de reflexão sobre a ação humana.
Nesta curta-metragem, são as Minas de São Domingos, no distrito de Beja, o cenário e elemento que se vai repetir, em planos longos e morosos, e que nos mostram as ruínas de algo antes ocupado e explorado. Aqui também vemos uma espécie de reflexão sobre o humano na forma de ausência deste.
Pyrite é, sobretudo, um filme que coleciona sensações e as entrega ao espectador, dando por si a pensar sobre os barulhos, as cores e as texturas destas imagens.
Inês Moreira
A Felicidade e Coisas Mórbidas (2022)
de Débora Gonçalves
Em A Felicidade e Coisas Mórbidas, assistimos ao afastamento precoce da realizadora do seu próprio filme. Deixando o filme órfão, a partir desse momento seguimos a sua equipa na busca por aquilo que poderia ser um desejo visual post mortem.
De uma beleza singular, o filme vai alternando entre o percurso da equipa e as pequenas narrativas que são encontradas naqueles lugares, num olhar premente sobre a morte, o fim e o que fica para contar.
Ricardo Fangueiro
Parceria com o CINENOVA – Festival de Cinema Interuniversitário Português
[Foto em destaque: Pirite (2022), de Heldér Beja © Direitos Reservados]