A entrega de prémios do Júri Oficial do 74º Festival Internacional de Cinema de Berlim decorreu ontem, dia 24 de fevereiro, no Berlinale Palast. Com sala lotada e vinte e quatro prémios para entregar. O mais esperado, o Urso de Ouro, encontra agora casa com Mati Diop, realizadora e produtora francesa-senegalesa. O seu Dahomey (2024), um documentário sobre vinte e seis relíquias originais de Benin que retomam a casa, vingou em Berlim.
A premiação, bem como o próprio festival, foi pautada por discursos políticos de apelo e sensibilização da guerra. Jurados e artistas trouxeram alfinetes da Palestina e usaram as suas intervenções para pedir o cessar-fogo na faixa de Gaza. Oksana Zabuzhko, membro do Júri Oficial, antes de entregar o Urso de Prata para Melhor Argumento, utilizou a sua posição privilegiada para sensibilizar o público (os que estavam presentes e os que estavam a ver em casa) sobre a guerra na Ucrânia, que dura há já dois anos. A Berlinale, por essência reconhecido como um festival político, reconhece a sua responsabilidade social e mediática e potencia discursos fundamentais para a atualidade. Os filmes premiados, para além das suas características estéticas e estruturais, tiveram uma forte mensagem política e social.
Os grandes premiados da noite: Diop, Sang-soo, Dumont e Stan
Presidido por Lupita Nyong’o, o júri foi composto por Brady Corbet, Ann Hui, Christian Petzold, Albert Serra, Jasmine Trinca e Oksana Zabuzhko. De entre os 20 filmes selecionados para a secção Competição, quem arrematou o inestimável prémio da noite, o Urso de Ouro, foi o documentário de Mati Diop, Dahomey (2024). A obra mostra o retorno dos artefactos do Reino de Dahomey, atual Benin, em África, vindos de Paris. O “segundo lugar”, o Urso de Prata do Grande Prémio do Júri, foi para o sul-coreano Hong Sang-soo, pelo filme A Traveler’s Need (Yeohaengjaui pilyo), presente na Competição pela sétima e vencedor pela quinta. Já o Prémio do Júri foi para a sátira francesa de Bruno Dumont, L’Empire. O realizador Nelson Carlos De Los Santos Arias recebeu o Prémio de Melhor Realização pela longa-metragem Pepe.
Nas atuações, os grandes premiados da noite foram Sebastian Stan, arrebatando a estatueta de Melhor Performance Principal por A Different Man, e Emily Watson, vencendo na categoria de Melhor Papel Secundário por Small Things Like These. O prémio de Melhor Argumento foi para Matthias Glasner, pelo filme Sterben (Dying) e o de Contribuição Artística Extraordinária foi conferido ao diretor de fotografia de The Devil’s Bath, Martin Gschlacht.
Juliana Rojas brilha na secção Encounters
Encounters premiou três filmes, com os Prémios Melhor Filme, Melhor Diretor e Prémio Especial do Júri. Nesta edição, a secção contou com quinze filmes de dezassete países diferentes. O painel de jurados, composto por Lisandro Alonso, cineasta e argumentista argentino, Denis Côté, realizador canadiano, e Tizza Covi, realizadora e argumentista italiana, atribuiu o prémio de Melhor Filme a DIRECT ACTION (2024), de Guillaume Cailleau e Ben Russell. A Melhor Realização foi para Juliana Rojas, com Cidade; Campo (2024). O último prémio, o Especial do Júri, teve uma dupla premiação: The Great Yawn of History (2024), de Aliyar Rasti, e Some Rain Must Fall (2024), de Qiu Yang.
No Other Land ganha melhor documentário de entre 20 filmes
O documentário No Other Land (2024), de Basel Adra, Hamdan Ballal, Yuval Abragan e Rachel Szor fez fulgor na programação da Berlinale. De entre vinte documentários, nas secções Competição, Berlinale Special, Encounters, Panorama, Forum e Generation, foi este o escolhido como Melhor Filme. A atribuir os prémios para Berlinale Documentary Award estiveram Abbas Fahdel, cineasta franco-iraquiano, Thomas Heise, jornalista alemão, e Véréna Paravel, antropóloga francesa. DIRECT ACTION foi premiado, também nesta categoria, com uma Menção Honrosa.
A Berlinale consagra a primeira obra de Phạm Ngọc Lân
O júri composto por Eliza Hittman, Andréa Picard e Katrin Pors, em representação da GWFF (sociedade dedicada à salvaguarda dos direitos cinematográficos e televisivos), atribuiu o Prémio de Melhor Primeira Obra ao vietnamita Phạm Ngọc Lân, pelo seu filme Cu Li Không Bao Giờ Khóc (Cu Li Never Cries). O prémio tem o valor de cinquenta mil euros (doados pela GWFF). Importa lembrar que foram dezasseis filmes, das secções da Competição, Encounters, Panorama, Forum e Generation, a competir por este prémio.
Un movimiento extraño ganha Urso de Ouro para Melhor Curta-Metragem
Três prémios foram atribuídos pelo júri das curtas-metragens internacionais, composto por Ilker Çatak, Xabier Erkizia e Jennifer Reeder. Esta edição foi palco de vinte obras de onze países, num registo equilibrado que compreende sete ficções, sete filmes de animação e seis documentários experimentais. O mais conceituado dos prémios, o Urso de Ouro para Melhor Curta-Metragem, foi atribuído ao realizador argentino Francisco Lezamo por Un movimiento extraño (An Odd Turn). Com Re tian wu hou (Remains of the Hot Day), a chinesa Wenqian Zhang recebeu o Urso de Prata; já That’s All From Me, da alemã Eva Könnemann mereceu uma menção especial e uma nomeação oficial como candidato para os European Film Awards.
As crianças e os jovens falam
O júri internacional da Competição Generation Kplus, formado por Amjad Abu Alala, Banafshe Hourmazdi e Ira Sachs, concedeu o Grande Prémio de Melhor Filme à obra Reinas, dirigida por Klaudia Reynick, que receberá a quantia em dinheiro de 7.500 euros da fundação Deutsches Kinderhilfswerk. Já na secção Generation 14plus, o mesmo júri escolheu o filme Comme le feu de Philippe Lesage para uma premiação no mesmo valor, dessa vez oferecida pela Bundeszentrale für politische Bildung (Agência Federal de Educação Cívica). Os miúdos condecoraram com o Crystal Bear o seu favorito It‘s Okay! de Kim Hye-young, enquanto os adolescentes atribuiram a mesma honra a Last Swim de Sasha Nathwani.
Veja abaixo a lista completa de premiações desta edição do festival.
Lista de premiações da 74ª Edição do Festival Internacional de Cinema de Berlim
Competição Principal:
Urso de Ouro: Dahomey, de Mati Diop
Urso de Prata Grande Prémio do Júri: A Traveler’s Needs, de Hong Sangsoo
Urso de Prata Prémio do Júri: The Empire, de Bruno Dumont
Urso de Prata Melhor Realização: Pepe – Nelson Carlos De Los Santos Arias
Urso de Prata Melhor Performance Principal: A Different Man – Sebastian Stan
Urso de Prata Melhor Performance Secundária: Small Things Like These – Emily Watson
Urso de Prata Melhor Argumento: Dying – Matthias Glasner
Urso de Prata Contribuição Artística Extraordinária: The Devil’s Bath – Martin Gschlacht (direção de fotografia)
Secção Encounters:
Melhor Filmes: DIRECT ACTION, de Guillaume Cailleau and Ben Russell
Melhor Realização: Cidade; Campo – Juliana Rojas
Prémio Especial do Júri: The Great Yawn of History, de Aliyar Rasti; e Some Rain Must Fall, de Qiu Yang
Documentário:
Melhor Documentário: No Other Land, de Basel Adra, Hamdan Ballal, Yuval Abraham e Rachel Szor
Menção Honrosa: DIRECT ACTION, de Guillaume Cailleau and Ben Russell
Curtas-Metragens:
Urso de Ouro: An Odd Turn, de Francisco Lezama
Urso de Prata: Remains of the Hot Day, de Wenqian Zhang
Menção Honrosa: That’s All From Me, de Eva Könnemann
Alexandre Bispo, Lílian Lopes, Nuno Gaio e Silva e Rita Pádua