Imagine passar alguns dias numa ilha de um bilionário, com as melhores bebidas e comidas possíveis. Essa é a ideia inicial do filme de estreia de Zoë Kravitz como realizadora, Um Sinal Secreto (Blink Twice, 2024). À primeira vista, não passa de um bom plano para se fazer com a melhor amiga, mas já nos primeiros minutos desta história sabemos onde ela irá terminar.
Em Um Sinal Secreto, a protagonista Frida (Naomi Ackie) aceita o convite de Slater King (Channing Tatum) para desfrutar deste cenário paradisíaco e leva consigo a sua amiga Jess (Alia Shawkat). O que pareciam dias perfeitos de descanso e festa na companhia dos amigos de King transformam-se num cenário de horror, com um mistério que nos é revelado no final. O filme percorre um caminho que já se tornou familiar no género de terror nos últimos anos; no entanto, Kravitz segue esse percurso sem arriscar demasiado.
O elemento que impulsiona os acontecimentos da trama é a memória. Kravitz revive as ideias do esquecimento e da lembrança ao transformá-las numa arma nas mãos de Slater King. Ele controla o que as suas convidadas, Frida (Naomi Ackie), Jess (Alia Shawkat), Sarah (Adria Arjona), Camilla (Liz Caribel) e Heather (Trew Mullen), irão recordar no dia seguinte, tornando a ilha paradisíaca num cenário de violência e abusos ao anoitecer. Ao perceberem o que se passa, a rebelião feminina inicia-se e o filme aborda convenções do slasher. Embora haja poder no esquecimento, este nunca será maior do que o da lembrança.
Devido a essa estrutura, deparamo-nos com um filme ao estilo dos assinados por Peele, onde conseguimos prever o desfecho da história antes mesmo de ser construída uma devida tensão. Esses momentos de suspense devem-se mais à banda sonora e aos planos claustrofóbicos do que propriamente à construção do argumento e, por isso, surgem – por vezes – na narrativa em momentos inadequados. Além disso, o recurso de criar uma tensão e quebrá-la com um elemento cómico e inesperado torna-se repetitivo e, até mesmo, desnecessário logo nos primeiros minutos.
Apesar de abraçar excessivamente as convenções do género, Kravitz assina um primoroso trabalho de realização. Quando a narrativa se estabelece e a vingança domina as personagens, ficamos perante um verdadeiro filme de terror, que acelera o seu ritmo e nos prende até ao último segundo, fazendo-nos esquecer os seus clichês. Embora a narrativa siga pelo caminho seguro, Um Sinal Secreto prova ser apenas o primeiro êxito de realização, entre muitos, que podemos esperar de Kravitz.
* O presente texto encontra-se escrito em português do Brasil.
Lílian Lopes
[Foto em destaque: Um Sinal Secreto, de Zoë Kravitz © Warner Bros.]