É já no próximo sábado, dia 9 de julho, que decorre mais uma edição do Curtas Vila do Conde. Depois de dois anos a meio gás, com restrições e máscaras, o festival parece regressar em pleno e cheio de força para celebrar a sua 30ª edição. Num tempo em que os festivais parecem ser, cada vez mais, a principal forma de atrair o público para a esfera do cinema autoral, é preciso reconhecer a importância que esses foram adquirindo no contexto da distribuição de cinema. O Curtas que, desde 1993, vem tendo um lugar de destaque na exibição do que se faz por cá e lá fora a nível de curtas-metragens, chega revitalizado e com um programa prometedor, sendo vários os momentos que devem servir de mote para qualquer cinéfilo se encaminhar a Vila do Conde entre os dias 9 e 17 de julho.
Para celebrar as três décadas de existência, o Curtas desloca-se, de forma simbólica, a 30 locais do concelho de Vila do Conde onde leva centenas de filmes, exposições, conversas, festas e filmes-concerto. Num modelo itinerante, pretende levar à descoberta de lugares como o mercado das Caxinas, onde será projetado o filme Obrigação de João Canijo (encomenda do festival em 2012), ou a casa-museu José Régio, onde decorrerá a exposição Teorema de Laurent Fievet.
A abrir o festival estará o filme vencedor do Urso de Ouro em Berlim, Alcarrás de Carla Simon, autora a quem é dedicada a secção In Focus deste ano. A cineasta catalã é já um dos nomes a reter do cinema espanhol e europeu, sendo esta é uma oportunidade imperdível para ver as suas curtas-metragens, assim como a sua primeira longa-metragem Verão 1993, curiosamente o verão em que o festival nasceu.
Como já é habitual o festival aproveita ainda a secção Da Curta à Longa para a estreia nacional de alguns filmes, como é o caso de Saudades do Futuro de Anna Azevedo Gomes ou do filme que marca a sessão de encerramento, Fogo-fátuo de João Pedro Rodrigues. A comédia musical sobre um príncipe que sonha ser bombeiro teve estreia mundial na Quinzena dos Realizadores em Cannes e é mesmo um dos grandes destaques desta edição. Ainda no programa Da Curta à Longa, volta ao festival o cineasta Nadav Lapid com O Joelho de Ahed.
Na competição internacional, a mais antiga do festival, destaca-se o regresso de realizadores já conhecidos do Curtas como o romeno Radu Jude, que apresenta The Potemkinists, o francês Yann Gonzalez que mostra Hideous e o malaio Tsai Ming Liang que apresenta no festival Liang ye bu neng liu.
Entre estreias nacionais e mundiais, a competição nacional traz-nos, mais uma vez, uma seleção criteriosa do que se fez em Portugal nos últimos tempos. É o caso, por exemplo, de estreias nacionais como o filme Aos Dezasseis de Carlos Lobo, Ice Merchants de João Gonzalez, a já assídua presença no festival de David Doutel e Vasco Sá que estrearão Garrano, Skola di Tarafe de Sónia Vaz Borges e Filipa César, e ainda See You Later Space Island de Alice dos Reis. Em estreia mundial o Curtas passará O Casaco Rosa de Mónica Santos, O Teu Peso em Ouro de Sandro Aguilar, Pê de Margarida Vila-Nova (atriz que se estreia na realização), Saturno de Luís Costa e André Guiomar, Uma Rapariga Imaterial de André Godinho, As Sacrificadas de Aurélie Oliveira Pernet, Heitor sem Nome de Vasco Saltão, Raticida de João Niza Ribeiro e Segunda Pessoa de Rita Barbosa.
Já a secção Panorama Nacional dará oportunidade àqueles que visitarem o festival vila-condense de ver O Homem do Lixo de Laura Gonçalves, Azul de Ágata Pinto, Tornar-se Um Homem na Idade Média de Pedro Neves Marques, By Flávio de Pedro Cabeleira e Catraias de Tânia Dinis. Na secção New Voices, que dá voz aos nomes mais emergentes do cinema contemporâneo, as honras são dadas ao espanhol Chema García Ibarra e à francesa Céline Devaux. No programa Stereo, entre vastas e apelativas sessões, destaque-se o filme-concerto de Steve Gunn que sonoriza as películas experimentais e irreverentes de Stan Brakhage.
Também não ficará de fora a celebração do centenário do realizador António Campos, com uma conversa imperdível sobre o seu cinema com José Manuel Costa e Catarina Alves Costa, para além das várias sessões onde se poderão ver versões restauradas de vários dos seus filmes. No âmbito do projecto FILMar – programa da Cinemateca para a preservação, digitalização e divulgação do cinema português relacionado com o mar – serão mostrados alguns filmes filmados na zona da cidade nortenha.
Na já prestigiada Solar – Galeria de Arte Cinemática inaugurar-se-á uma exposição de Marie Losier, que apresenta um trabalho “repleto de comédia marcadamente física (…) acima de tudo, enraizado na performance”, e que aqui se junta ao artista David Legrand para a criação das obras mostradas na Solar.
Entre filmes, concertos, conversas entre realizadores e público, exposições e festas, não faltarão motivos para celebrar o cinema pela 30ª vez por terras vila-condenses.
Consulte o programa completo do Curtas Vila do Conde aqui.
Ricardo Fangueiro
[Foto em destaque: Poster do Curtas de Vila de Conde © 2022 Curtas Vila do Conde]