Dustin Guy Defa não é um desconhecido da Berlinale. Em 2014, competiu com o seu Person to Person ao Urso de Ouro de “curtas”, levando do festival o prémio DAAD. O cineasta é norte-americano, mas nem por isso alinha no maximalismo dos meios de produção e narrativos de Hollywood. Em vez disso, o que o autor nos propõe com a sua recente longa-metragem, The Adults (secção Encounters), é uma proposta radicalmente oposta: um filme sem plot ou dicotomias morais, um retrato minimalista, arriscamos dizer smaller than life, de três irmãos que se descobrem, sem querer, noutra fase da vida, tentando interpretar uma nova vida, uma que exige que assumam o papel de adultos.
Um abatido Michael Cera protagoniza o triângulo composto também pelas excelentes Hannah Gross e Sophia Lillis. A crónica dá-se a partir de uma viagem que o primeiro empreende de Portland à cidade natal. Dustin Guy Defa é implacável a demonstrar como a sorte e o azar perseguem este homem sem qualidades, se subtrairmos o enorme talento que Michael Cera tem em tentar provar que é o melhor jogador de póquer e divertir todos aqueles em seu redor. Nessa empresa, parece esconder uma aflitiva depressão crónica. Aliás, essa melancolia extrema perpassa o staging e montagem (co-assinada pelo realizador) de The Adults. À semelhança do seu protagonista, o filme encaminha-se humildemente sem objetivo definido. Uma reparação possível ocorre quando os irmãos relembram que se amam, apesar da tensão constante que não se explica senão no off, no fora de campo.
A Dustin Guy Defa interessa-lhe mais amar pessoas calmas, compondo com elas uma visão particular do mundo centrada no género humano, infinitamente contraditório e frágil. Numa das melhores cenas do filme, enquanto joga póquer com os amigos, Cera recorda o momento em que conheceu a morte pela primeira vez, quando viu Simba descobrir o pai morto em O Rei Leão. As suas lágrimas, que facilmente se fundamentariam pela perda da mãe, encerram algo ainda de mais complexo – o protagonista cuida de perceber se o pathos da sua retórica consegue eficazmente afetar os amigos, enquanto também tenta navegar entre várias máscaras, impedindo assim uma leitura completa das suas motivações psicológicas.
The Adults é um retrato pessoal, belamente fotografado, que atinge outro ponto alto nos momentos musicais coreografados entre os irmãos. A sua simpatia e simplicidade encontrará os seus fãs, mas não satisfará aqueles que acreditam no cinema como superação da vida.
Flávio Gonçalves
[Foto em destaque: The Adults, Dustin Guy Defa © Universal Pictures Content Group]