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White Plastic Sky: Face ao nada que somos, a natureza prevalecerá

White Plastic Sky (Műanyag égbolt), longa de animação de Tibor Bánóczki e Sarolta Szabó, estreou mundialmente na secção Encounters. A dupla, responsável pelas curtas Les Conquérants (2013) e Leftover (2015), traz à capital alemã a sua estreia no formato longa-duração, uma ficção científica distópica passada no século XXII.

Budapeste, 2123, revelam os intertítulos iniciais. De rajada, as palavras que aparecem escritas sobre um céu acessível apenas através de uma redoma descrevem o panorama. Os animais e as plantas foram extintos, e as regras de sobrevivência para os que têm a sorte de viver sob a redoma que encapsula a cidade são rígidas: volvidos os 50 anos de idade, os cidadãos sacrificam-se à Plantation – destino que partilham com quem procura refúgio de uma vida sem rumo – em prol de um bem maior. 

A trama centra-se em Stefan, um psiquiatra que ajuda crianças e jovens a prepararem-se para a eventual “transformação” dos seus entes queridos, e em Nora, a sua mulher. O ponto de vista de Stefan, através do qual passamos a conhecer a profissão e os contornos da cidade futurista, migra para Nora, prestes a voluntariar-se precocemente à Plantation: é-lhe implantada uma semente que, após muito sol e muita água, transformar-lhe-á numa árvore. Quando finalmente os vemos juntos, o semblante deprimido que se instala sugere uma tragédia em comum, impossível de ultrapassar.

White Plastic Sky, de Tibor Bánóczki, Sarolta Szabó © Salto Films, Artichoke, Proton Cinema

A aura plasticamente pacata da cidade encoberta transforma-se numa explosão de cor e música numa visita desesperada a uma discoteca, local improvável para o início de um plano de ação: ao descobrir o sucedido, Stefan embarca numa jornada criminosa para resgatar Nora. As placas no chão e nas paredes traçam o mapa de uma Hungria rochosa, e as panorâmicas de prédios abandonados transformam o cinzento numa paisagem recheada de nostalgia, percorrida na expectativa de chegar à única pessoa que pode reverter o procedimento a que Nora se sujeitou, o velho cientista responsável pelo projeto civilizacional vigente. 

Numa sobreposição de estilos de animação, das quais se destaca a técnica rotoscope (popularizada em Waking Life e A Scanner Darkly, de Richard Linklater) – que prende desde o princípio pela capacidade exímia de captar micro-expressões que fazem toda a diferença quando a palavra não é capaz de veicular a mensagem – Bánóczki e Szabó incorrem num diálogo complexo que contrapõe o bem maior à vontade pessoal. 

Apesar de envolto num ritmo por vezes disperso que dá demasiado destaque aos fragmentos mais banais da narrativa, White Plastic Sky é incisivo e valioso na sua mensagem ecologicamente carregada. Munida de uma nova sensibilidade, Nora consegue ouvir os desejos da árvore que encontram no destino final, um totem que sublinha o que filmes desde Wall-E a Aguirre, der Zorn Gottes vieram expor: face ao nada que somos, a natureza sempre prevalecerá. 

Kenia Pollheim Nunes

[Foto em destaque: White Plastic Sky, de Tibor Bánóczki, Sarolta Szabó © Salto Films, Artichoke, Proton Cinema]

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