Café e Cigarros
Depois de um binge watch de 10 horas de The Curse, série criada pelo humorista canadiano Nathan Fielder juntamente com o realizador Benny Safdie, foi também Poor Things que não saiu da minha cabeça, o novo filme do realizador grego Yorgos Lanthimos. Eu, que já tinha visto a nova longa de Lanthimos no passado novembro no Leffest, numa sala particularmente desconfortável, mas que ainda assim não conseguiu derrubar o entusiasmo que o filme tinha trazido sobre mim, encontrava-me agora novamente a matutar sobre este.
Ainda não sei se pela coincidência de ter terminado The Curse, na madrugada da estreia do filme em sala, ou se por este estar ressonante na minha cabeça depois das suas 11 nomeações aos óscares. A verdade é que cheguei a uma conclusão não muito brilhante e que muitos de vocês já devem ter chegado também: Emma Stone é, provavelmente, a atriz da nossa geração.
Não é apenas a sua performance em Poor Things que encaixa que nem uma luva na personagem concebida por Alasdair Gray e idealizada por Yorgos Lanthimos (como foi o meu pensamento inicial em novembro), mas tem, sim, vindo a ser assim, de forma harmoniosa, que Emma Stone se tem vindo a fundir com todos os seus papéis concebendo parcerias geniais com aqueles que a dirigem e contracenam com ela. Lanthimos/Stone, Fielder/Stone, Woody Allen/Stone, Ryan Gosling/Stone, entre outras.
Em Poor Things, interpreta Bella Baxter, um experimento de Godwin Baxter (Willem Dafoe) numa espécie de abordagem contemporânea de Frankenstein. Uma jovem que vê o mundo com as suas próprias lentes (Roobie Ryan é exímio a demonstrar isto mesmo) e que está em constante mutação. A sua personagem em The Curse é menos fantasiosa, mas não menos intensa. Whitney Siegel é uma arquiteta preocupada com a sustentabilidade e que quer trazer essa preocupação para um bairro pobre do New Mexico através das suas passive houses. Os dois objetos audiovisuais trazem para cima da mesa temas atuais e de peso, sejam estes o racismo, a hipocrisia do mercado da arte, a falsidade da reality tv, o white saviour complex, a descoberta sexual da mulher, a repressão da sociedade sobre o ser humano. Em The Curse, a câmara parece que espia o casal Siegel enquadrando-o claustrofobicamente, assim como a lente fish-eye dos filmes de Lanthimos. A performance de Stone contracena também com esta representação da claustrofobia de uma sociedade que leva os seus jovens a esgotamentos nervosos. Stone é uma atriz física, ela dança com o corpo para nos contar o que quer que seja que haja para contar, fá-lo através de um humor que, por vezes, é até doloroso e desconcertante. Vê-se a paixão que coloca nas suas personagens, que se tornam inesquecíveis. E disto tenho a certeza: nunca nos iremos esquecer de Emma Stone!
A fim e ao cabo, acho que o importante é que Stone tem vindo a encontrar o seu lugar no mundo do cinema e da televisão, um lugar onde faz os papéis que quer fazer, nos quais acredita, e isso é completamente notório tanto em Poor Things como em The Curse, duas das grandes obras-primas de 2023, sem sombra de dúvida. Se em 2017, a vimos levar a estatueta para casa, em 2024 “veremos o zoom in de Robbie Ryan sobre o seu rosto” (quem me dera!), certamente vencedor.
Inês Moreira
Um comentário a “Poor Things e The Curse: o mundo é de Emma Stone!”
Ines, Tu és simplesmente gemiall, da forma como escreves e descreves. Adorei. Parabéns.
Um xi ❤️