Nesta edição atípica da Berlinale, a minha primeira, apercebi-me que, para o festival, certas experiências não estão, nem podem estar, na mesa de negociação. A comunhão, a dimensão partilhável do cinema, é uma delas. Afinal, não é um dos maiores prazeres da vida ouvir uma sala inteira rir? E, que tal, sentir o silêncio profundo dos que estão à nossa volta, também a navegar as ondas de um filme?
Durante uma semana, estas sensações fizeram parte do meu dia-a-dia, enquanto passeava pelas múltiplas salas de cinema em que decorria a Berlinale, cujos ecrãs me ofereceram mil momentos diferentes. Na escuridão, abri os olhos para a maravilha constante que é estar em permanente contacto com a diversidade da 7ª Arte, oferecida de bandeja pela programação do festival. Do cinema de autor e experimental ao mais mainstream, foram reunidas centenas de obras vindas de todos os cantos do mundo para atingirem um público interessado, que não só gosta de admirar, mas também questionar aquilo que vê.
Inevitavelmente, chega o momento em que a Berlinale tem de largar a nossa mão, mas não o faz sem a confiança de que podemos continuar a viagem sozinhos. Este ano, preencheu as telas brancas durante seis dias. No sétimo, e em todos os que se seguem, resta-nos a nós continuar a abençoar este novo mundo aqui criado, enquanto esperamos pelo próximo.
Até lá, deixo uma lista dos cinco filmes que mais me marcaram, aqueles que vou levar sempre no bolso, caso precise.
- Geographies of Solitude, de Jacquelyn Mills
- Alcaràs, de Carla Simón
- Super Natural, de Jorge Jácome
- Terra que marca, de Raul Domingues
- Les passagers de la nuit, de Mikhaël Hers
Margarida Nabais
[Foto em destaque: Geographies of Solitude, Jacquelyn Mills © Jacquelyn Mills]