Para uma estudante de cinema, o circuito de festivais é parte integral da sua formação. Seja pelo trabalho de programação, produção, perspetiva de divulgação cinematográfica dos seus próprios filmes ou visionamento de outros novos. A oportunidade que nos foi proporcionada para fazer uma cobertura crítica e jornalística da 74ª Edição do Festival Internacional de Cinema de Berlim foi uma que, logo desde início, levei com seriedade.
Chegámos a meio do festival, caídos de paraquedas. A maioria dos filmes mediáticos já tinha passado, bem como as suas conferências de imprensa. O ritmo acelerado intimidou-nos ao início, mas a prática e a rapidez de entrega que nos foi pedida forneceu-nos uma agilidade que poderemos e iremos utilizar daqui para a frente. Senti falta de uma ponderação maior sobre os filmes que via, mas o escrever a quente foi um exercício desafiante e resultou em textos de que me posso orgulhar.
Nunca tinha escrito sobre cinema, sem ser em contexto académico. Mais do que isso, nunca tinha sido depositada em mim a responsabilidade de construir uma opinião isolada, que servisse de ponto de partida para outras pessoas visionarem um determinado filme. Tudo na Berlinale é idílico: desde o grandioso Berlinale Palast, cujas dimensões nos deixaram desde logo entusiasmados, até às conferências de imprensa, que nos deram abertura para ouvirmos profissionais do cinema a falar sobre os filmes que lhes são tão importantes. Pude fazer uma espécie de itinerário dos cinemas berlinenses, desde o Palast, ao Haus der Berliner Festspiele, ao Cinemaxx e até à Akademie der Künste. Pude visitar a cinemateca e o museu do cinema, que contribuíram largamente para a minha escrita e cobertura, através da imersão na história do cinema.
Não posso escrever sobre esta experiência sem mencionar o filme e a conferência de imprensa que me fizeram repensar a maneira como vejo cinema. The Stranger’s Case, de Brandt Andersen, filme sobre o qual escrevi para o Cineblog, atribuiu uma nova conotação às possibilidades do cinema indie. Poder presenciar os testemunhos dos atores e do realizador sobre o filme e sobre a importância social e política do mesmo foi fundamental.
Muito agradeço aos meus colegas, que se dispuseram sempre a ter discussões produtivas sobre o que víamos, e com os quais pude falar sobre cinema e partilhar essa paixão que nos é comum. Também aos coordenadores e aos editores do Cineblog, incansáveis na sua produção de feedback, sempre com o objetivo de tornar os nossos textos, na sua essência amadores, no melhor produto possível. A Berlim, que nos acolheu de braços abertos, e ao cinema, que nunca nos desiludiu.
Para a posteriori, ficam os cinco filmes da 74ª Edição do Festival de Cinema Internacional de Berlim que me marcaram e mudaram a maneira como vejo e penso no cinema:
- The Stranger’s Case, de Brandt Andersen (2024)
- All Shall Be Well, de Ray Yeung (2024)
- Seven Veils, de Atom Egoyan (2024)
- Mãos no Fogo, de Margarida Gil (2024)
- Cidade; Campo, de Juliana Rojas (2024)
[Foto em destaque: A equipa do filme The Strangers’ Case na sua estreia © Richard Hübner / Berlinale 2024]
Rita Pádua