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L’Empire: A guerra das estrelas francesa de Bruno Dumont

Uma das maiores surpresas da secção Competição da 74ª Berlinale é a presença do novo trabalho do realizador francês Bruno Dumont. Quem não conhece a sua filmografia pode ser pego de surpresa ao se deparar com a premissa e o estilo do filme L’Empire, que, em resumo, é uma sátira da reconhecida saga Star Wars. L’Empire, vencedor do Urso de Prata na categoria Prémio do Júri, explora absurdos estéticos e narrativos de maneira singular e cativante.

A rivalidade entre o bem e o mal ocorre em Côte d’Opale, uma cidade costeira no norte da França. Freddy, uma criança de cerca de dois anos de idade, também conhecido como “The Wain”, é o responsável por gerar o conflito. Ambos os lados querem tê-lo para si. O “dark side” é composto por seu pai, Jony (Brandon Vlieghe), e Line (Lina Khoudri), uma extraterrestre que surge em seu auxílio. Em contrapartida, os que lutam pela paz na Terra são comandados por Jane (Anamaria Vartolomei) e Rudy (Julien Manier). L’Empire se constrói na dinâmica atrapalhada dos casais, feita de encontros e desencontros.

L’Empire, de Bruno Dumont © Tessalit Productions

Dumont não tem medo de explorar os limites ou, até mesmo, ir além deles. As naves mães nada mais são que uma catedral gótica flutuando no espaço e o Palácio de Versailles. O realizador expõe-se sem medo do ridículo, especialmente quando se trata do personagem Belzébuth (Fabrice Luchini): o Darth Vader francês. A atuação de Luchini anda no mesmo trilho que a imaginação de Dumont: estrambólica e caricaturesca, fazendo parecer que estamos vendo um miúdo de cinco anos e não um líder com intenções maléficas.

O alívio cômico fica a cargo de Bernard Pruvost, como Van der Wyden, e Philippe Jore, como Carpentier. A dupla, atrapalhada na medida certa, trabalhou junto em 2014 na minissérie de Dumont O Pequeno Quinquin (Li’l Quinquin). Retornando aqui com os mesmos personagens, criam uma espécie de universo das suas obras.

L’Empire, de Bruno Dumont © Tessalit Productions

L’Empire é o que Star Wars seria se não fosse feito na indústria. Jane corre por dunas de areia da mesma forma que Rey, mas está claramente em um cenário mais próximo da nossa realidade do que a personagem de Lucas. Os treinos de luta de sabre tornam-se quase uma dança. Dumont nos faz rir e por não ter medo de ser burlesco, levou, merecidamente, um dos grandes prémios do festival.

Lílian Lopes

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