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Rimini ou Comedor de Velhinhas Decadentes

Rimini, o mais recente filme do austríaco Ulrich Seild, abre com um grupo de idosos a cantarem em um asilo. Somos apresentados a um senhor que caminha com a ajuda de um andador. O espaço é composto por paredes cobertas por imensos adesivos simulando a natureza. Apesar do assunto, o ritmo do corte não é lento.

Pouco depois, somos apresentados a Richie Bravo, um cantor decadente mas muito espirituoso. Richie costuma cantar em salões de hotéis para plateias compostas principalmente por senhoras idosas. Com muita graça, ele as seduz de tal maneira que faz com que se sintam como se estivessem na flor da idade. E de fato muitas vezes as leva para cama, em quartos apertados e despersonalizados. Depois do sexo, elas lhe pagam um certo valor em dinheiro.

Rimini by Ulrich Seidl – © Ulrich Seidl Filmproduktion

Quando canta, Richie não usa o apoio de uma banda, mas de uma gravação, levando com que o show seja composto exclusivamente dele. Sua casa é decorada com imensos cartazes e imagens suas de papelão.  Ele tem poucas fãs, mas são fiéis. Uma delas, por exemplo, pede que ele assine um álbum usando seus próprios seios como apoio. O filme apresenta diversas cenas de sexo na terceira idade como se fossem jovens cheios de hormônios. E o elenco, muito corajoso, não tem pudor em desnudar-se diante da câmera.

Algo vem a interromper o cotidiano de Richie: sua filha, Tessa, quem ele não vê há mais de dez anos, reaparece em sua vida. Ela é objetiva[?]: apenas quer dinheiro. Muito dinheiro. Mais do que ele possui. Para consegui-lo, ele precisa executar um plano cujos elementos não vou elaborar aqui. Apenas comento que sua estratégia é sórdida e criativa.

Rimini by Ulrich Seidl – © Ulrich Seidl Filmproduktion

As cenas são decupadas em poucos planos, na maior parte das vezes através de uma perspectiva centralizada. As personagens são interpretadas com extrema doçura. São criaturas oprimidas pela aparência do glamour e uma essência bruta. Alonga mistura tragédia e comédia, como por exemplo na cena em que o pai de Richie canta uma música nazista e ele precisa disfarçar as inclinações do pai cantando “Amore Mio” por cima.

Como descrever as cores desse filme? Acompanhamos Richie em seu mundo de cores berrantes e saturadas. Entretanto, a iluminação sombria cria uma atmosfera triste e macabra para esses cenários de apenas aparente vivacidade. Em um dos momentos mais tocantes, ele transa com uma senhora enquanto a mãe desta a chama no quarto ao lado. Trata-se de uma idosa acamada, que precisa que a filha reposicione a bolsa de água quente. 

Ao longo da projeção, as platéias de Charlie, ficam cada vez mais vazias. Após um rompante emocional, nosso protagonista canta em um palco sem público que o assista. E é justo nessa performance que parece estar dando o melhor de si. O contraplano revela que havia apenas uma mulher a vê-lo: sua filha. O diretor Ulrich Seidl demonstra extrema sensibilidade ao compor uma obra cheia de charme, intriga e personagens complexos. No fim, a impressão que dá é que tudo está dentro de uma questão maior: a música e seus misteriosos efeitos e afetos nos seres humanos.

Chico Barbosa

[Foto em destaque: Rimini by Ulrich Seidl – © Ulrich Seidl Filmproduktion]