Em 2020 estreou a secção Encounters/Encontros na Berlinale, com um programa competitivo que procura dar palco a realizadores independentes que procuram quebrar fronteiras e, deste modo, criar um novo tipo de cinema.
No seu primeiro ano, o par de realizadores C. W. Winter e Anders Edström ganharam o prémiocom a segunda obra conjunta, The Works and Days (of Tayoko Shiojiri in the Shiotani Basin). Um documentário ficcionalizado de oito horas sobre a vida de agricultor numa pequena vila japonesa. Em 2021 ganhou Nous, da francesa Alice Diop, com um projecto inovador, que pensa o processo de filmagem como acto de memória e testemunho, que passou no IndieLisboa.
Este ano, apresentam-se 15 estreias mundiais de 15 países diferentes e, apesar de ser o ano com mais realizadores estabelecidos no meio, como Ruth Beckermann, Mitra Farahani, Sho Miyake, Arnaud des Pallières e Peter Strickland, entre outros, a secção não se esquece da premissa principal — criar uma secção que complemente a competição oficial através de um novo formato competitivo que procura dar palco a novas visões artísticas.
O júri de Encounters é composto por: Chiara Marañón, directora de conteúdos da plataforma MUBI, realizadora do filme The Girl in The Lemon Factory (2013), jurada de vários festivais, entre os quais o Argentino, Mar del Plata e o Coreano, Jeonju. Foi também curadora de programas para o FICCI em Cartagena e Tabakalera Centre for Contemporary Art em San Sebastián; Ben Rivers, artista e cineasta britânico, premiado em vários festival europeus, entre os quais o FIPRESCI Prize no Festival de Cinema de Veneza em 2011 e o Tiger Award for Short Filme no Festival Internacional de Cinema de Roterdão; Silvan Zürcher, produtor, escritor e realizador suiço. A sua primeira longa-metragem enquanto produtor, The Strange Little Cat, estreou em 2013 no Forum da Berlinale, tendo posteriormente ganho vários prémios noutros festivais. Em 2021 estreou na secção Encounters da Berlinale, The Girl and the Spider, filme co-realizado com o seu irmão, Ramon Zürcher, tendo ganho o prémio de melhor realizador e também o FIPRESCI Prize.
A partir de sexta-feira, poderemos ver filmes como:
À vendredi, Robinson, de Mitra Farahani, num filme-correspondência entre Jean-Luc Godard, o crítico tornado cineasta que revolucionou o cinema dos anos 60 para a frente, e Ebrahim Golestan, escritor e cineasta da mesma época que deixou marcas profundas na cultura moderna Iraniana.
Father’s Day, de Kivu Ruhorahoza, uma tripla narrativa passada em Ruanda, que explora elos e traumas entre país e filhos com a sensibilidade única que o realizador já tendo vindo a mostrar e a desenvolver.
Flux Gourmet é a quinta longa-metragemPeter Strickland, um filme burguês passado numa residência artistíca que, de forma cómica e grotesta, se centra na culinária, para a partir e à parte dela, questionar a arte.
Outros filmes a ver na secção Encounters:
Axiom, de Jöns Jönsson é uma reflexão sobre identidade e percepção – um jovem educado e charmoso que se vai lentamente revelando diferente do que pretende transmitir. Através da subversão do papel do espectador perante um personagem que se mostra ser mera ilusão, o ónus deixa de residir no protagonista, passando antes para o espectador e a sua interação com este.
Brother in Every Inch, é o primeiro filme de Alexander Zolotukhin. Passado na Russia, acompanha dois irmãos a treinarem para ser pilotos de jatos, revelando, através desse treino, a exigência e os efeitos da tentativa de exceder os limites psicológicos humanos.
Coma, de Bertrand Bonello, é um filme que vive na fronteira entre o ensaio e a fantasia, talvez a única fuga possível à pandemia que colocou em questão toda a nossa evolução social, suspendendo-a e tranferindo-a, talvez temporariamente, para o universo digital. Coma é, acima de tudo, um filme sobre a conexão humana e o esforço que fazemos para compreender-mos o outro, sendo porventura esta a solução em momentos de crise.
The City and the City, de Christos Passalis e Syllas Tzoumerkas. Thessaloniki é o palco desta história, ou histórias para ser mais concreto, um filme que gira em torno de um cidade do mesmo modo que todos giramos em volta do sol. Um profundo mergulho nas magoas atuais da cidade, alimentadas pelo trauma do holocausto. Este trauma cultural é explorado através de múltiplas narrações, organizadas em 6 capítulos, vagueando entre passado e presente e, no caminho, iluminando as partes mais negras da cidade.
Journal d’Amérique, de Arnaud des Pallières. Expandindo as estruturas dos seus trabalhos anteriores, Pallières explora novamente a natureza fragmentária do filme-ensaio e as possibilidades que o formato permite. Este diário, é, assim, uma coleção de pensamentos, reflexões, imagens, textos e sons que, em conjunto colocam mais questões do que aquelas a que responde.
Small, Slow But Steady, de Shô Miyake, filmado em 16mm, é inspirado no livro auto-biográfico de Keiko Ogasawara, Makenaide!. No caso do livro, um auto-retrato, no filme, um retrato – um estudo de personagem sobre determinação e excedência das limitações.
© Gerald Kerkletz – The Death of My Mother
Restantes filmes na secção Encounters:
A Little Love Package, de Gastón Solnicki;
Mutzenbacher, de Ruth Beckermann;
Queens of the Qing Dynasty, de Ashley McKenzie;
Sonne, de Kurdwin Ayub;
Unrest, de Cyril Schäublin;
The Death of My Mother, de Jessica Krummacher.
Diogo Albarran