Categorias
73ª Berlinale (2023) Berlinale

She Came to Me: Berlinale abre com comédia romântica

She Came to Me, de Rebecca Miller, será o filme de abertura da 73ª edição da Berlinale. A cineasta e argumentista já esteve presente em duas edições do festival, pela primeira vez como parte da secção de competição e, mais recentemente, como convidada do Panorama. 

Deixou o seu marco na Berlinale pela primeira vez em 2009, na Competição Oficial, com The Private Lives of Pippa Lee. Neste filme, Miller adapta para o cinema um romance da sua autoria, produzindo um drama romântico sobre uma mulher de meia-idade que recorda todos os devaneios da sua vida passada enquanto o seu marido mais velho sugere que saiam da sua casa para viverem num lar de acolhimento.

The Private Lives of Pippa Lee, Rebecca Miller © 2022 Plan B Entertainment

Em 2016, Miller regressa, desta vez no Panorama, com Maggie’s Plan. A cineasta continua a trabalhar dentro do género em que já tinha mergulhado no filme prévio. Neste, desenvolve uma narrativa acerca de uma rapariga que consegue com que o homem por quem se apaixonou deixe a mulher e tenha um filho com ela. O problema dá-se quando começa a ter dúvidas se a ex-mulher do novo parceiro não seria realmente a sua alma gémea… Enquanto The Private Lives of Pippa Lee estava repleto de grandes nomes no elenco, desde Keanu Reeves a Julianne Moore, Maggie´s Plan assumidamente estabelece as suas ambições intimistas ao escolher Greta Gerwig, a madrinha do cinema indie dos anos 2010, para interpretar o papel de protagonista. Ao longo dos anos, o filme foi aclamado por muitos críticos pelo seu sentido de humor, inteligência e uma subversão da comédia romântica, que mesmo já presente nos seus filmes anteriores, neste se encontra melhor conseguida.

Maggie’s Plan, Rebecca Miller © 2022 Hall Monitor, Inc.

Agora de novo na Berlinale, desta vez abrindo o festival, Miller regressa com She Came to Me, prometendo apurar o género que veio a desenvolver sem deixar de exercer o seu cunho pessoal subversivo. A Berlinale descreve o filme como uma “comédia encantadora sobre o amor em todas as suas formas, que cria uma teia de histórias a partir das vidas de um carismático elenco de personagens a viver na romântica e movimentada metrópole de Nova Iorque.” A narrativa desenvolve-se à volta de Steven Lauddem, um compositor interpretado por Peter Dinklage, que se encontra num estado aflitivo de bloqueio criativo no momento em que precisa de acabar a partitura com que vai regressar ao mundo da ópera. Segindo o conselho da sua mulher, Patricia (interpretada por Anne Hathaway), ele começa uma missão com o objetivo de encontrar inspiração. Esta viagem acaba por o levar por caminhos que não pretendia, ou sequer imaginava…

A realizadora continua a inovar a comédia romântica dentro do próprio sistema, algo especialmente visível na técnica já exercida nos seus últimos filmes, ao contrastar elementos mais mainstream (neste caso o género do filme e os grandes nomes que interpretam diversos papéis), com inovações narrativas, temáticas e formais (que podemos esperar tendo em conta a sua filmografia). A sinopse descreve o filme como uma “comédia irresistível que se desenvolve em cima dos conflitos quotidianos da sociedade ocidental” e decide destacar a forma como as suas personagens encontram liberdade indo contra as regras estritas da sociedade (chegando a comparar a energia do filme à liberdade de expressão palpável nos filmes da era pre-code de Hollywood). Este caráter e descrição rima com a escolha que o festival fez na curadoria da secção Retrospective, na qual decidiu encarnar e celebrar o espírito livre da juventude na primeira edição do festival sem restrições ligadas à pandemia que o afetou nos últimos anos.

Destaca-se na lista da equipa e elenco o nome de Christine Vachon, uma produtora de cinema importantíssima, principalmente no mundo do cinema indie, desde o seu papel fulcral no desenvolvimento de filmes transgressivos e de baixo orçamento na década de 90, à escrita de Shooting to Kill, um dos livros mais aclamados sobre a produção de cinema independente. A presença deste nome pode levar à antecipação de She Came to Me como algo realmente único.

Os espectadores terão de esperar até à sua estreia no dia 16, mas a prometida conjugação de “destinos e coincidências” que permeiam a narrativa com o seu caráter excêntrico, mostra que o filme é, sem dúvida, uma escolha adequada para começar esta edição do festival, reforçando a aposta do mesmo numa liberdade e autonomia agora recuperada.

Vasco Muralha

[Foto em destaque: She Came to Me, Rebecca Miller © 2022 Protagonist Pictures]

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *