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Treasure: Um Abrigo na Tempestade

Uma jornalista judia parte para a Polônia na companhia do pai, sobrevivente do Holocausto, a fim de navegar as difíceis memórias de sua família. Embora seja complicado encontrar humor ou candura na premissa de Treasure (2024), longa-metragem da diretora alemã Julia von Heiz, que acaba de estrear na Berlinale (seção Berlinale Special), a atriz principal Lena Dunham garante que foi justamente esse equilíbrio de forças que a atraiu no projeto. Após realizar duas longas-metragens sobre o despertar identitário e sexual das jovens mulheres, ela retorna ao posto de atriz com a transição para idade adulta, enfim concluída.

Com uma filha pequena em casa e uma avó casmurra para agradar, Dunham afirma seu desejo de lograr para a posteridade algo além de sua bem-sucedida série de comédia dramática Girls. Segundo ela, a leitura do roteiro de von Heiz reverberou tanto nesse sentido, que aceitar, prontamente, o papel não foi suficiente. Foi necessário trazer para a empreitada sua própria companhia de produção e seu colaborador frequente Michael P. Cohen, também ele judeu.

Peça-chave na engrenagem do filme, o ator britânico Stephen Fry confessa à imprensa ter encontrado amparo em sua filha cênica enquanto filmava em locações como o campo de concentração de Auschwitz. Coordenando as gravações do filme com as de sua nova série, Dunham elenca as conversas com Fry em set como a substituição perfeita de seu pouco tempo de preparação. As primeiras reações da crítica notam que a afinidade vivida nos bastidores se transpõe para a tela grande.

Fazendo jus ao seu lado ativista, a atriz tece um paralelo (distante, porém pertinente) entre Treasure e o indicado ao Óscar Zona de Interesse (2024, Jonathan Glazer), que também se debruça sobre o legado do Holocausto e a indiferença coletiva frente a desumanização do outro. Apesar de referido como um drama com pitadas de comédia, com uma abordagem mais leve e foco na relação pai e filha, Dunham espera que o filme traga a atenção das pessoas para os erros do passado a fim de evitar que eles aconteçam novamente.

*O presente texto encontra-se escrito em português do Brasil.

Alexandre Bispo

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