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Sur L’Adamant – Acolhimento e afeto sobre o Sena

Deixemos de lado os filmes de conscientização sobre saúde mental e psiquiatria, esta não é a proposta de Sobre Adamant (Sur L’Adamant, 2023), o novo documentário do realizador francês Nicolas Philibert. Embora o longa-metragem seja sobre os acontecimentos do dia-a-dia do hospital psiquiátrico Adamant, o olhar de Philibert transforma-o em uma obra que vai muito além de um mero documento. O filme teve sua passagem aclamada pelo Festival de Berlim de 2023, onde venceu o Urso de Ouro.

Sur L’Adamant, de Nicolas Philibert © TS Productions

No coração de Paris, flutuando no Rio Sena, o Adamant reúne diariamente as pessoas que acompanhamos nas quase duas horas de filme. O espaço torna-se uma espécie de refúgio ao acolher e dar o apoio necessário que, por vezes, os pacientes não encontram mundo afora. Ao conhecermos as diversas histórias que Philibert traz ao ecrã, somos incutidos a repensarmos sobre as relações pessoais no mundo em que vivemos. 

A estrutura de Sobre Adamant foca em alguns pacientes com mais profundidade – através de entrevistas que são intercaladas com o cotidiano do local. Esses momentos são intimistas e nos possibilitam compreender mais sobre suas vidas. Além disso, tem uma importância fundamental para notarmos a importância do centro, que encontra nas artes uma maneira de oferecer suporte à eles. Essa interseção entre expressão artística e psiquiatria já havia sido explorada anteriormente pelo realizador na obra O mínimo das coisas (La moindre des choses, 1997). Assim, Philibert nos faz refletir, mais uma vez, sobre o poder que a arte tem em transformar o cotidiano em algo singular. 

Sur L’Adamant, de Nicolas Philibert © TS Productions

É pertinente destacarmos que Philibert coloca sua percepção do Adamant de uma forma extremamente compreensível com todos aqueles que foram registrados. Não há julgamentos – nem ao menos cabe espaço para eles. Adamant é acolhimento, é suporte – bem como o olhar do realizador. Isso fica bastante claro quando ele entrega sua câmera nas outras mãos. Guia a lente, indica como as fotos devem ser, mas ao final, o importante é o olhar único de cada paciente.

O filme de Philibert é urgente e pertinente. Tem a capacidade de tirar o pré-conceito – na raiz da palavra – do olhar daqueles que ainda não compreendem a realidade de um centro psiquiátrico. Realidade essa rodeado por afeto e compreensão. Mostrada através de entrevistas que buscam entender a vida real dos que lá frequentam. Adamant é refúgio, acolhimento, e Nicolas Philibert sabe muito bem disso.

* O presente texto encontra-se escrito em português do Brasil.

Lílian Lopes

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