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73ª Berlinale (2023) Berlinale

Berlinale marca posição política e bane participantes com ligações aos governos do Irão e Rússia

É sob o signo da solidariedade que o Festival de Cinema de Berlim reafirma, este ano, o seu compromisso político com a luta pelos direitos humanos e a democracia e com a promoção do cinema como ferramenta para a resistência e mudança social. De acordo com um comunicado divulgado pela organização do evento, é através de uma série de atividades, promovidas em paralelo com a programação de filmes, que a Berlinale pretende demonstrar tanto a condenação da agressão da Rússia contra a Ucrânia, como o apoio firme dos manifestantes contra o regime autocrático do Irão.

Meses depois de ter eclodido uma onda de protestos contra a morte de Mahsa Amini e de mais 500 civis terem sido mortos pelas forças de segurança iranianas, a tarde deste próximo sábado, dia 18, será marcada por uma manifestação conjunta de solidariedade com o povo iraniano à frente do Palast, um dos principais locais do festival, que reunirá realizadores, membros do júri e das equipas dos filmes programados. O gesto simbólico acontecerá depois de uma mesa-redonda no centro de artes performativas Hebbel am Ufer, centrada no papel do cinema e das artes na Revolução Iraniana, e que contará com a presença de cineastas iranianos, curdos e afegãos. 

O apoio e a redescoberta do cinema iraniano faz raccord com a recente libertação da prisão de Jafar Pahani. Agraciado em Berlim com o Urso de Ouro em 2015 por Táxi, que este realiza e protagoniza, e preso em 2022 por protestar contra a detenção de outro cineasta, Jafar Pahani foi libertado após pagamento de uma caução e dias depois de ter iniciado um protesto sob a forma de greve de fome. Em Lisboa, o seu último Ursos não Há, que contorna a proibição oficial de poder filmar, continua a ser exibido nos cinemas UCI e Ideal (que, por seu lado, também exibe dois fabulosos filmes de Abbas Kiarostami, Trabalhos de Casa e Onde Fica a Casa do meu Amigo). Na Cinemateca, a capital continuará a ser palco de descoberta dos melhores filmes iranianos feitos entre 1955 e 2015, através do ciclo “Tijolos e Espelhos: o Cinema Iraniano Revisitado”, que se prolongará para além de fevereiro.

Apesar de não ter sido proibida a participação de realizadores ou jornalistas independentes da Rússia ou do Irão (The Siren, animação de Sepideh Farsi, abrirá a secção Panorama), a Berlinale tornou persona non grata organizações e jornalistas que colaborem oficialmente com os governos destes países. 

Outra demonstração de solidariedade ocorrerá na passadeira vermelha no dia 24 de fevereiro, um ano volvido após a invasão do exército russo na Ucrânia. O conflito será ainda objeto de reflexão em ficção (Do you love me?, de Tonia Noyabrova), ensaio poético (Iron Butterflies, de Roman Liubyii) ou documentários programados como Superpower, de Sean Penn e Aaron Kaufmann, sobre Volodymyr Zelensky (que já discursou na aberta do festival) ou Eastern Front, que Vitaly Mansky e Yevhen Titarenko filmaram na linha da frente da guerra, entre outros. 

Flávio Gonçalves

[Foto em desta: Superpower, Sean Penn e Aaron Kaufmann © The people’s servant, llc]

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