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CINENOVA 2024 – SESSÃO #3

NOVA INTERPRETAÇÃO | Amor, Vidas Novas

Minuit sur MSN
Elise Levy | França, 2023

Minuit sur MSN, de Elise Levy © Direitos Reservados

Vivemos num momento de nostalgia dos anos 2000. Entre roupas marcantes da época, músicas com batidas semelhantes e, até mesmo, uma retomada das comédias românticas, surge Midnight on MSN retrata em imagens o que é ser adolescente no ano de 2008. Tocando sensivelmente nesta fase da vida, o curta-metragem apresenta-nos a amizade entre Laure e Alix, duas garotas de 13 anos que, apesar de estudarem na mesma escola, comunicam-se através da rede de mensagens em questão. Proveniente da escola francesa La Fémis, trata-se do filme de estreia de Elise Levy como roteirista-diretora. Levy aborda as recorrentes temáticas vividas por muitos adolescentes, o bullying, o florescer de novos sentimentos e a procura de aceitação. Embora pareça clichê, a realizadora transporta-nos prosperamente para estes anos e nos faz mergulhar na história. Entre pôsteres, gravações em webcam e canções do Radiohead, somos tomados pela reminiscência do passado ao vermos a tela do MSN e ouvirmos o ruído das suas notificações. Trata-se de um coming of age capaz de nos lembrar dos nossos primeiros amores e conflitos. O relembrar de quem um dia fomos.

*O presente texto encontra-se escrito em português do Brasil.

Lílian Lopes

A Transient Taste
Eva Neidlinger | Alemanha, 2022

A Transient Taste, de Eva Neidlinger © Direitos Reservados

Um filme que acima de tudo está do lado de uma criança. Não é um filme subjetivo, nem um filme de planos subjetivos. A câmara não tenta tomar a posição da personagem, nem a dramatização do mundo exterior é justificada como uma expansão ficcional do seu estado interior. Mas mesmo assim, a câmara acompanha-a. Acompanha-a como quem acompanha uma pessoa real, acompanha-a querendo mostrar (e entender) o seu lado, sem a pretensão de o conseguir perfurar. Tanto vemos como ouvimos: a banda sonora está repleta de sons desconfortavelmente viscerais da natureza.

Um filme que mostra o infantil sem condescendência, mas também sem fingir conseguir entendê-lo tão bem como uma criança.

Vasco Muralha

In Heaven and On Earth
Yulia Yukhymets | Polónia, 2023

In Heaven and On Earth, de Yulia Yukhymets © Direitos Reservados

Impossível olhar In Heaven and On Earth sem pensar no cinema do polaco Paweł Pawlikowski. Vinda, também, da Polónia, a curta-metragem de Yulia Yukhymets enquadra Tosia da mesma forma que Pawlikowski enquadrava a sua Ida – é a preferência pelo close-up que dá o carácter tão penetrante a este filme de cinematografia belíssima. 

O tema é a morte de um pai, bombeiro. O cenário é um funeral. E a escolha do preto e branco eleva ao expoente máximo a índole fúnebre. Contudo, é a meio do filme que percebemos que este será muito mais do que isso. É, sobretudo, um filme sobre uma relação entre irmãos. Irmãos de mães diferentes, de idades diferentes, desconhecidos, mas que partilham uma dor comum: a morte do pai. Negando-o numa primeira interação, Tosia logo percebe que este irmão a coloca, na verdade, mais próxima do pai perdido. 

In Heaven and On Earth chega-nos com uma simplicidade brilhante, quer ao nível dos planos, como o close-up de uma formiga nas mãos de Tosia, quer ao nível da narrativa, como quando o pequeno irmão conta que viu o pai no céu e Tosia o questiona sobre o que este terá dito. Ele responde “He said there are no fires there”, e são estas as últimas palavras que ouvimos.

Inês Moreira

The Creature
Damian Kosowski | Polónia, 2022

The Creature, de Damian Kosowski © Direitos Reservados

Kaznik, um miúdo de 7 anos, não consegue ultrapassar o facto da sua tia não o continuar a acompanhar no caminho para a escola e procura nas memórias do passado uma explicação para esta mudança. 

Kaznik é o narrador deste The Creature, agora adulto, e a tia Dagna é a sua musa, aquela que relembra como sendo a única mulher bela e jovem da sua família. Damian Kosowski traz-nos, aparentemente, um típico drama familiar com momentos que nos transportam quase para a dimensão do documentário, através das imagens de arquivo que complementam muito bem o trabalho de fotografia de Ignacy Ciszewski. 

É uma câmara que olha as relações familiares através da lente da memória, o que pode ser perigoso tendo em conta a falta de veracidade – em alguns casos – e a necessidade de dar resposta a um passado que não se compreende muito bem. No seio familiar, as relações não são completamente transparentes. Os adultos não conseguem encontrar formas de dizer aquilo que querem dizer. O ser humano revela-se complexo, vasto e sem conseguir dar resposta aos seus problemas. 

Inês Moreira

As seguintes folhas de sala são uma parceria com o CINENOVA – Festival de Cinema Interuniversitário Português 

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