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CINENOVA 2024 – SESSÃO #2

NOVA MEMORIZAÇÃO | Até ao meu regresso…

Valeria
Olga Khoreva | Rússia, 2023

Valeria, de Olga Khoreva © Direitos Reservados

É no palco do passado que Valeria habita. E é logo no primeiro plano que o descobrimos, viajando por uma casa de aura sinistramente premonitória, por onde entra a personagem-título: uma empregada doméstica que também parece reconhecer algo no espaço. Instala-se o mistério, em que cada objecto parece relíquia, cada pormenor, uma pista e o som mais miúdo, o mais alto. Apesar da sensação de vinheta crescente, é um filme de delicadezas, em que o detalhe é exaltado e um grão de areia tem a capacidade de romper com o equilíbrio ténue da realidade. Neste universo onde a objetividade é esquecida, seguimos uma única personagem. E, usando espelhos como instrumentos de reflexão, simultaneamente, visual e conceptual, as deformações de cada imagem refletida revelam diferentes visões da mesma pessoa. No reflexo, descobrimos o seu potencial nostálgico – a qualidade fracturante da memória. Mas quem nos devolve o olhar é um fantasma do arrependimento, vítima da impossibilidade do retorno.

Margarida Nabais

Liminal Space: Diving Within
Anahita Safarnejad Choobary | Alemanha, 2022

Liminal Space: Diving Within, de Anahita Safarnejad Choobary © Direitos Reservados

Liminal Space: Diving Within é um baú de memórias em formato de vídeo VHS, que se abre com cuidado e carinho, numa narrativa igualmente familiar e individual. Apresentando-se como um poema audiovisual, esta curta-metragem explora a relação entre pai e filha, dor e luto, câmara e memória. Após perder o pai, Anahita embarca numa jornada de redescoberta, revendo o seu passado através da câmara do pai. Uma história sobre a transformação necessária para superar o peso da morte, e o mundo que se pode encontrar no vazio deixado pela perda.

“Give me the camera so I can film you, too!”, pede Anahita ao pai, numa das filmagens que ele lhe deixa. Assim se percebe a relação de quem vê e se deixa ver, de quem ama e se deixa amar. A memória revela o rosto de quem se quer lembrar, refletido na expressão de quem só vemos com os olhos fechados.

Margarida Rodrigues

Flashes
Dmitriy Lebedev | Uzbequistão, 2023

Flashes, de Dmitriy Lebedev © Direitos Reservados

Um filme de flashes. Um ballet de tempos, e também de planos: entre o real e a imaginação. Um filme dinâmico e movimentado, onde os movimentos de câmara são acompanhados pelo trabalho de pós-produção em níveis igualmente barrocos. É um filme que se rege pela junção destes pólos, que chocam, de forma rápida, forte e contínua, até se tornarem normalizados. O corte para de ser a passagem de uma realidade para a outra, mas a sobreposição das duas em simultâneo. E tão rapidamente como o filme construiu esta ilusão, manda-a abaixo, ficando apenas as personagens (e o espectador) desoladas nas suas ruínas.

Vasco Muralha

Quando a Terra Sangra
João Vicente Morgado | Portugal, 2023

Quando a Terra Sangra, de João Vicente Morgado © Direitos Reservados

Num passado distante, a sangria tinha um papel preponderante nas práticas curativas da peste negra. Entre a medicina e a espiritualidade, acreditava-se que a perda de sangue conduziria à libertação dos males humanos. Sangue e cura, lado a lado. O sangue era impuro e inaugurava o caminho para a pureza. Em Quando a Terra Sangra, é a terra que sangra. Nesta tentativa alucinogénia de purificação, a condenação é a única certeza. Mergulhamos numa vila entregue à peste e condenada à morte. Aqui, a imunidade poderá tornar-se uma penitência. E resta um, um apenas: condenado à vida.

Maria Inês Mendes  

As seguintes folhas de sala são uma parceria com o CINENOVA – Festival de Cinema Interuniversitário Português

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