No último dia da Berlinale vi apenas um filme – Beirut the Encounter (1981), do libanês Borhane Alaouié. Ter visto é uma força de expressão. Do filme vi apenas a primeira meia hora e … o plano final, de um avião a descolar. Belíssimo plano, como o eram todos os que vi. Para onde ia e quem levava, como podem imaginar, não fazia ideia.
Numa entrevista, Abbas Kiarostami admitiu: “Eu prefiro filmes que põem o espectador a dormir. Acredito que esses filmes são tão generosos que permitem uma agradável sesta. (…) Alguns filmes fizeram-me dormitar no cinema, mas esses mesmos filmes também me fizeram ficar acordado à noite, acordar a pensar neles e assim continuar durante semanas.” A caminho dessa agradável e muito necessária sesta, apenas pensava na minha passagem pela Berlinale, um verdadeiro sonho que viu a luz do dia na última semana. Mal acordei, pensei nas palavras de Kiarostami, que tão bem descrevem não apenas a minha última experiência numa sala de cinema da Berlinale, mas, e sobretudo, toda a experiência no festival. Uma oportunidade tão generosa que ocupará o meu pensamento, sob a forma da mais maravilhosa memória, não durante semanas, mas pela vida fora. Porque, como se diz pelas bocas do povo, não há amor como o primeiro e, sempre na esperança de regressar, não haverá Berlinale como a primeira.
Marcarei encontro com o Beirut the Encounter sempre que precisar de pretexto, embora duvide.
Aqui fica uma lista dos melhores filmes que vi, os quais, mais do que me comover, e que tanto comoveram, me olharam de volta.
1 – À vendredi, Robinson, de Mitra Farahani
2 – Mato seco em chamas, de Adirley Queirós e Joana Pimenta
3 – The apple day, de Mahmoud Ghaffari
4 – Nest, de Hlynur Pálmason
5 – Les passagers de la nuit, de Mikhaël Hers
Cátia Rodrigues
[Foto em destaque: Beirut the Encounter, Borhane Alaouié – © Nadi Lekol Nas]