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72ª Berlinale (2022) Berlinale Cinema Português Festivais de Cinema

O cinema português à conquista de Berlim

A presença portuguesa na Berlinale destaca-se com 8 filmes distribuídos por diferentes secções do festival. Isto além da presença de Pedro Cabeleira no concurso ao Urso de Ouro na Berlinale Shorts com By Flávio. Ainda o actor João Nunes Monteiro é um dos talentos das Shooting Stars.

É robusta a participação portuguesa na Berlinale. E com alguns regressos. Desde logo, Jorge Jácome de volta três anos depois de levar a curta Past Perfect ao Fórum. É de novo nesta secção dedicada ao cinema experimental que apresenta a sua primeira longa metragem intitulada Supernatural. Trata-se de um filme sensorial onde duas vozes guiam os espectadores no que promete ser uma viagem cinematográfica e contemplativa às paisagens naturais da ilha da Madeira entrelaçadas com corpos humanos e não-humanos de todos os tipos. Um outro regresso é o de Rita Azevedo Gomes, uma vez mais no Fórum, depois de ali ter apresentado em 2019, A Portuguesa. Desta vez, leva a estreia mundial de O Trio em Me Bemol, rodado no Minho, numa reinterpretação da peça de teatro com o mesmo nome escrita em 1987 por Éric Rohmer. Partindo assim dos escritos de um dos mestres da nouvelle vague, o filme conta com a participação de Rita Durão e Pierre Léon que dão corpo às personagens Adélia e Paul para longas conversas sobre paixões e relações amorosas.

De referir ainda Mato Seco em Chamas, uma co-produção da Terratreme, e co-realização entre a realizadora portuguesa Joana Pimenta e o brasileiro Adirley Queirós, país que serve de pano de fundo para o filme. Num misto de documentário e ficção, esta obra reúne um conjunto de atores não-profissionais que se interpretam a si mesmos, e capta a atmosfera de Sol Nascente, uma das maiores favelas sul-americanas. Aí a vida é marcada pela exploração de petróleo, os protestos contra Bolsonaro e a vigilância policial apertada.

O cineasta de Leiria Raul Domingues assina Terra que Marca retratando práticas agrícolas e rurais portuguesas neste documentário onde a presença humana está ao mesmo nível que os objectos e a natureza aos quais recorrem no seu quotidiano.

Inês T. Alves leva a sua primeira longa metragem As Águas do Pastaza (juunt Pastaza Entsari) à secção Gerações. É aí junto ao rio Pastaza, situado na fronteira entre o Equador e o Perú, que observa a vida de um grupo de crianças indígenas que aí vivem em harmonia com a natureza que os rodeia. Ela que em 2018 fora galardoada com No Ângulo das Ruas na categoria Cinema Novo no festival Porto/Post/Doc.

No que às curtas diz respeito, temos então Pedro Cabeleira, o autor de Verão Danado a estrear-se na Berlinale com a curta By Flávio, onde nos propõe uma narrativa sobre uma mãe solteira representada por Ana Vilaça. A jovem mulher com talento natural para selfies que fazem sucesso nas redes sociais e Flávio, o seu filho, que a ajuda a tirar as fotos que a põem em conversa com um famoso rapper (Tiago Costa). Nicolas Bouchez, de origem belga, apresenta o seu filme de graduação do Mestrado em Documentário Criativo DOCNOMADS, Nada Para Ver Aqui, uma proposta dividida entre Portugal, Bélgica e Hungria. Tudo começa com um eclipse prestes a acontecer, mas que, afinal de contas, não será visível do Lumiar, a zona de Lisboa onde o filme foi gravado. Nesse lugar onde nada parece acontecer, pequenos eventos banais são colecionados por Bouchez que convida os espectadores a uma observação mais atenta dos prédios e das ruas que se habitam. Ainda na secção Generations, o realizador vimaranense Carlos Lobo apresenta Aos Dezasseis, um filme sobre as inseguranças e desejos de uma protagonista à procura de pertença. Os skate parks e outros locais escolhidos para as gravações pertencem às memórias de adolescência do próprio realizador que as transporta para o corpo desta personagem de 16 anos.

Estes são projectos que suscitam curiosidade, com origens e conceptualizações múltiplas, a estrear mundialmente na Berlinale.

Vera Barquero