Hot in Day, Cold at Night – A ilusória vida dos fantasmas

Young-tae e Jeong-hee vivem numa situação precária, com trabalhos part-time que permitem pouco mais do que o estritamente necessário. Tendo feito o pacto de nunca aceitar um empréstimo privado, em tempos de crise e conflito, Jeong-hee cede à pressão e aceita a dívida em segredo. Os dois colectores do empréstimo, meticulosos e ligeiramente assustadores nas suas simpáticas ameaças, aparecem um dia em casa da mãe de Jeong-hee, pressionando-a para pagar o que deve. 

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Alcarrás, o desenraizamento de uma família – Urso de Ouro na Berlinale

Nós, enquanto seres humanos, sempre tivemos uma relação muito forte com a terra. É onde a vida começa e onde a vida acaba, dá-nos sustento e um lugar para descansar no fim. Existia antes de nós e irá, esperemos, continuar a existir depois de nós. O seu cuidado e cultivo estão presos na tradição, representando um dos ofícios mais antigos do mundo. Neste século, com as progressivas inovações técnicas e o domínio das terras pelos mesmos grandes compradores, como é que estes costumes humildes se vão conseguir manter de pé?

Alcarrás, da cineasta espanhola Carla Simón, coloca esta mesma pergunta através da história dos membros da família Solé, produtores há várias décadas de pêssegos na pequena aldeia da Catalunha cujo nome dá o título ao filme.

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Mato seco em chamas – A ficção científica está aí, para quê criá-la?

Para os mais familiarizados com o cinema brasileiro, a coincidência de vários géneros cinematográficos no mesmo filme não causa surpresa. Trata-se, aliás, de um elemento distintivo do cinema brasileiro desde Glauber Rocha, admirável na articulação e conciliação de diferentes linguagens cinematográficas.

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Sobre o empoderamento intrépido de Márcia no novo filme By Flávio de Pedro Cabeleira

Pedro Cabeleira apresentou By Flávio na 72ª edição do Berlinale, tendo sido selecionado para a competição de curtas-metragens a decorrer no festival. Tivemos a oportunidade de conversar com o realizador que nos revelou que depois de Verão Danado (2017), e enquanto procurava financiamento para a próxima longa metragem, decidiu realizar esta curta para se manter activo durante esse hiato.

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Distopia Contemporânea em The Myanmar Diaries

Em plena pandemia de Covid-19, um vídeo percorreu a internet e se tornou viral. Tratava-se de uma professora de dança fazendo um vídeo para uma plataforma da internet enquanto grupos militares tomavam as ruas de Myanmar para anunciar um golpe de estado. É exatamente com essa mesma imagem que The Myanmar Diaries começa, um filme exibido na secção Panorama.

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Everything will (not!) be OK

Em 2013, Rithy Pahn dirigiu A Imagem Que Falta, indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e ganhador do prêmio Un Certain Regard no festival de Cannes, o longa apresenta a curiosa técnica de utilizar estáticas figuras de argila para reencenar os horrores do Khmer Rouge no Camboja e os desafios da pequena indústria cinematográfica do país. Em Everything Will Be Ok, Rithy Panh volta a usar a mesma técnica, mas complementando a mis-en-scène com um estilo ainda mais intenso de mesclar as figuras de argila com outras imagens documentais de nosso mundo.

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Três Tigres Tristes, um universo surrealmente próximo do nosso

Em São Paulo, num futuro distópico sinistramente semelhante ao nosso, um vírus indeterminado infeta a população, atacando a capacidade mnemónica do cérebro. Para controlar a pandemia, é anunciada uma “Fase Dourada”, cujas condições ainda estão por definir. No meio da confusão quotidiana, três jovens queer navegam as dificuldades do mundo em que vivem, além das suas próprias identidades.

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Avec amour et acharnement ou frágil como a vida

Se há realidade que o cinema francês mostrou, em especial O Desprezo de Godard, é que o fim de todas as histórias de amor se resume a um momento, a um gesto, a um olhar, a um encontro inesperado, que acabam por anunciar a separação dos amantes.

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